A propagação de fake news nas redes sociais ganhou proporções alarmantes no Brasil, especialmente após a disseminação de informações falsas sobre a taxação do Pix, um dos sistemas de pagamento mais usados no país. Na mesma semana em que Mark Zuckerberg anunciou o afrouxamento das políticas de combate à desinformação nas plataformas da Meta, vídeos e postagens de lideranças de direita começaram a viralizar, gerando pânico na população.
A fake news sobre o “imposto no Pix” provocou tamanha repercussão que o governo federal, que desde o início afirmou que não haveria taxação sobre o sistema de pagamentos, foi pressionado a revogar a norma da Receita Federal que deu origem ao boato. A medida foi tomada após a intensa circulação de desinformações, que deixaram muitos brasileiros temerosos sobre a possível taxação.
Esse episódio está inserido em um contexto mais amplo de desinformação, e o Brasil continua sendo um dos países mais suscetíveis a acreditar em notícias falsas. Pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgada em junho de 2024, revelou que o Brasil ocupa a última posição no ranking de habilidade para identificar fake news. O estudo, que analisou 21 países, destacou a dificuldade dos brasileiros em distinguir informações verídicas de falsas, em contraste com países nórdicos, como a Finlândia, que lideram a capacidade de identificar conteúdos enganosos.
A pesquisa também apontou que a alta utilização das redes sociais como fonte de notícias, que no Brasil ultrapassa os 85%, é um dos fatores que contribui para a proliferação de desinformação. Em países onde o consumo de notícias pelas redes sociais é menor, como na Alemanha e no Japão, as habilidades de verificação de informações são significativamente mais altas.
A polarização política nas redes sociais também tem sido alimentada pela extrema direita, que usa desinformação, muitas vezes envolvendo temas econômicos, para gerar desconfiança e medo na população. O fenômeno, que inicialmente parecia uma brincadeira, tomou contornos mais sérios, com memes e vídeos de líderes políticos usando o medo da taxação como ferramenta para ataques ao governo, particularmente contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A campanha de desinformação contra Haddad ganhou relevância, especialmente após duas pesquisas indicarem uma melhora na avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2024. A propaganda, associada a memes e informações errôneas, teve o objetivo de enfraquecer a figura do ministro e prejudicar sua imagem em vistas às eleições de 2026 e 2030.
Em paralelo, o Brasil também enfrentou um episódio envolvendo fake news sobre a cotação do dólar. A informação errada foi disseminada pelas redes sociais e afetou o mercado financeiro, influenciando a valorização da moeda americana no final de 2024. O erro foi atribuído ao Google, que reconheceu a falha e explicou que os dados incorretos vieram de uma fonte externa.
Esse cenário revela a grande vulnerabilidade do Brasil diante das fake news, que são impulsionadas não apenas por questões políticas, mas também por uma falta de alfabetização midiática e pela desregulamentação das plataformas sociais. O impacto de tais desinformações vai além do simples compartilhamento de mentiras, pois gera consequências reais, como o pânico coletivo, mudanças na percepção pública e até instabilidade econômica. A necessidade de promover a educação digital e combater a desinformação é mais urgente do que nunca.