Nos últimos anos, os números de pessoas diagnosticadas com HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) nas unidades prisionais da região de Campinas (SP) têm apresentado uma crescente preocupação. Dados da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) indicam que, em 2024, o total de casos de HIV nas prisões atingiu o maior índice dos últimos 10 anos, com 210 registros.
Embora o número de presos tenha diminuído no município, o número de infecções tem aumentado. Além do HIV, as taxas de sífilis e hepatites virais também alcançaram picos inéditos na última década, com destaque para o aumento expressivo de sífilis em 2023 e 2024, comparado aos anos anteriores.
O especialista em infectologia, Julio Croda, aponta que o aumento de casos pode ser explicada por três possíveis fatores. O primeiro é o reflexo do crescimento de infecções na população geral. O segundo fator considera um aumento no número de testes realizados nas unidades prisionais, enquanto o terceiro sugere uma possível alta na transmissão de doenças dentro das prisões. Croda destaca a importância de políticas de prevenção como o uso de preservativos e terapias de prevenção ao HIV, como a PrEP, nas unidades prisionais.
Para a SAP, a elevação nos números se deve, em parte, ao aumento das testagens, sendo que as unidades prisionais de Campinas e Hortolândia realizaram dezenas de milhares de testes rápidos entre 2023 e 2024. Além disso, algumas dessas unidades receberam reconhecimento pelo bom desempenho na identificação e controle de doenças infecciosas.
Especialistas também chamam a atenção para a vulnerabilidade da população carcerária, que, em sua maioria, é composta por indivíduos de classes sociais mais baixas, com níveis educacionais limitados e com acesso precário à saúde. Isso contribui para uma maior suscetibilidade ao HIV e outras doenças, agravada pelo estigma, machismo e falta de informações sobre prevenção e tratamento.
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelos presos está a desinformação sobre a transmissão do HIV e a falta de privacidade para o tratamento adequado, uma vez que o sigilo sorológico dificilmente é mantido nas unidades prisionais. O especialista Gustavo Passos, do Unaids, alerta para o impacto negativo que o estigma e o descaso com as condições de saúde têm sobre o tratamento e a prevenção do HIV nos presídios.
A situação reforça a necessidade urgente de políticas públicas de saúde mais eficazes e inclusivas dentro do sistema penitenciário, que assegurem não apenas o tratamento adequado para os presos, mas também a prevenção e educação contínua sobre infecções sexualmente transmissíveis.