O preço do ovo no atacado registrou um aumento significativo de mais de 40% em diversas regiões produtoras do país em fevereiro, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea – Esalq/USP). A alta está sendo atribuída ao aumento do custo do milho, ao calor intenso e à demanda aquecida devido à Quaresma, período que antecede a Páscoa.
Em Santa Maria de Jetibá (ES), um dos principais polos produtores de ovos do Brasil, o preço da caixa com 30 dúzias de ovos vermelhos alcançou R$ 276,54 na quarta-feira (19), marcando uma alta nominal de 43% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a cotação era de R$ 193,65.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou a situação do aumento do preço do ovo em entrevista sobre a inflação dos alimentos. “Eu sei que o ovo está caro. Quando me disseram que está R$ 40 a caixa com 30 ovos, é um absurdo. Vamos ter que fazer reunião com atacadistas para discutir como é que a gente pode trazer isso para baixo”, afirmou o presidente.
Causas da Alta e Expectativas para o Mercado
A alta de preços já era esperada para o período da Quaresma, quando há uma substituição do consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas, como ovos. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a demanda por ovos tende a crescer nesta época, o que justifica o aumento dos preços. No entanto, especialistas apontam que o aumento aconteceu antes do esperado.
Tabatha Lacerda, diretora administrativa do Instituto Ovos Brasil (IOB), aponta que um dos principais fatores para a alta é o aumento nos custos de produção, especialmente o preço do milho, que subiu 30% desde julho de 2024. O milho é essencial na alimentação das galinhas, o que impacta diretamente no custo do ovo. Além disso, o aumento nas despesas com embalagens, que subiram mais de 100% nos últimos oito meses, também contribui para a elevação do preço.
Embora os produtores esperem que o preço se normalize após a Quaresma, o analista Fernando Henrique Iglesias, da Safras & Mercado, alerta que isso não é garantido. Iglesias explica que o aumento nos preços das carnes bovina, suína e de frango também tem gerado maior demanda por ovos, e caso os preços dessas proteínas continuem altos, a inflação dos ovos poderá se manter.
Mudanças no Consumo e Exportação
Tabatha Lacerda também observa uma mudança no comportamento do consumidor nos últimos anos. O ovo tem sido cada vez mais considerado uma proteína básica, e não apenas um acompanhamento. A expectativa é que o consumo per capita continue a crescer, com a previsão de que cada pessoa consuma, em média, 269 ovos em 2024, um aumento em relação a 242 unidades em 2023.
Embora o aumento nas exportações tenha sido notado, especialmente devido à situação da gripe aviária nos EUA, que impactou a produção local, ainda não há evidências de que as vendas externas estejam influenciando diretamente o aumento do preço no mercado interno. A ABPA aponta que as exportações representam menos de 1% da produção total de ovos do Brasil, estimada em 59 bilhões de unidades em 2024.
Com isso, especialistas indicam que o mercado de ovos continuará atento à relação entre oferta e demanda, especialmente em relação aos preços das carnes, e que o comportamento do consumidor será um fator crucial para determinar as tendências de preços nos próximos meses.