O Brasil enfrenta uma grave crise de saúde mental, com impactos diretos na vida de trabalhadores e nas empresas, como revelam dados do Ministério da Previdência Social sobre afastamentos do trabalho. Em 2024, foram registrados quase meio milhão de afastamentos, o maior número em pelo menos dez anos. O aumento de 68% em relação ao ano anterior reflete a situação de transtornos mentais incapacitantes, que resultaram em 472.328 licenças médicas, um marco histórico. Especialistas apontam que esse aumento está relacionado à crise do mercado de trabalho, às cicatrizes da pandemia e a fatores sociais, como a sobrecarga das mulheres.
A crise de saúde mental tem levado o governo a buscar medidas mais duras, como a atualização da Norma Regulamentadora NR-1, que agora inclui a fiscalização das condições de saúde no ambiente de trabalho. A norma poderá até gerar multas para empresas que não cumprirem as diretrizes. Em 2024, o número total de licenças médicas relacionadas à saúde mental foi de 472 mil, o que representa 13% do total de 3,5 milhões de afastamentos concedidos pelo INSS, com uma média de três meses de afastamento e um valor aproximado de R$ 1,9 mil por mês de benefício.
Entre os principais fatores que explicam o aumento de transtornos mentais está a situação das mulheres, que enfrentam uma sobrecarga de trabalho, menores salários e a responsabilidade financeira pelo sustento de muitas famílias. Estudos mostram que as mulheres representam 49,1% dos provedores financeiros de lares no Brasil, e estão mais propensas a buscar ajuda para problemas de saúde mental. A crise aumentou a pressão sobre as mulheres, o que tem gerado altos índices de estresse e esgotamento emocional.
Os transtornos mentais, com destaque para a ansiedade e a depressão, têm causas multifatoriais. Especialistas apontam que as cicatrizes da pandemia, o luto das mais de 700 mil mortes, o aumento do custo de vida e a insegurança financeira são elementos-chave. A transição abrupta para o “normal”, após anos de isolamento e estresse, também contribuiu para o agravamento de problemas emocionais. Embora as sequelas emocionais da pandemia sejam uma das principais razões para o aumento de transtornos, o diagnóstico mais preciso e a maior conscientização sobre saúde mental têm facilitado a identificação desses problemas.