Cinco anos após o início da pandemia de Covid-19, o Brasil ainda enfrenta dificuldades em retomar e expandir a realização de exames preventivos para o câncer, como apontou um levantamento da organização Umane, baseado em dados do Observatório da Saúde Pública (OSP). Durante a pandemia, houve uma queda generalizada nos exames preventivos, principalmente para os cânceres colorretal, de mama e do colo de útero. Embora o câncer colorretal tenha mostrado sinais de recuperação, os exames de mama e do colo de útero permanecem em níveis alarmantes.
A pandemia causou um represamento nos cuidados de saúde, com a suspensão de exames de rotina e triagem de doenças crônicas, o que impactou diretamente a prevenção do câncer. No entanto, os dados sugerem que, mesmo após o fim da emergência sanitária, o acesso e os cuidados preventivos ainda não foram totalmente restabelecidos. A gerente de investimento social da Umane, Evelyn Santos, destacou que não houve avanço significativo na diminuição de fatores de risco, como o tabagismo e a alimentação não saudável, e que ainda há uma cobertura inadequada nos exames de triagem, como mamografias, papanicolaus e colonoscopias.
Os exames de mamografia, que já enfrentavam quedas antes da pandemia, ainda não atingiram os índices pré-pandemia. De acordo com dados do Vigitel, o percentual de mulheres que realizaram mamografia caiu de 66,7% em 2017 para 59,8% em 2023. Apesar disso, os exames de ultrassonografia mamária bilateral apresentaram uma recuperação notável, com um aumento de 92,7% entre 2020 e 2024, alcançando 1,9 milhão de exames.
Em relação aos exames de câncer de colo de útero, como o papanicolau, a situação também é preocupante. A cobertura caiu de 84% para 78,9% entre 2017 e 2023 nas capitais brasileiras. Por outro lado, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou um aumento de 65,5% na realização de colonoscopias entre 2019 e 2024, refletindo um esforço para recuperar os exames de rastreamento para o câncer colorretal. Para especialistas, a retomada da conscientização e a garantia de acesso igualitário a esses exames são fundamentais para melhorar as taxas de detecção precoce e combate aos cânceres no país.