Os casos de intoxicação alimentar nas regiões de Campinas e Piracicaba apresentaram um aumento alarmante de 145,7% ao longo de 2024, conforme dados divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde. Foram registrados 118.066 atendimentos ambulatoriais nas áreas dos dois Departamentos Regionais de Saúde, contra 48.035 no ano anterior. Esse crescimento reflete uma crescente preocupação com a segurança alimentar na região.
Parte dos atendimentos está relacionada ao consumo de produtos impróprios para o consumo humano, com destaque para casos envolvendo carnes fora do prazo de validade ou armazenadas de maneira inadequada. As apreensões de alimentos contaminados têm se intensificado, com frequência, nos últimos meses. Um exemplo recente ocorreu na segunda-feira (17), quando a Polícia Civil apreendeu 37,5 toneladas de carne imprópria para consumo em um frigorífico no município de Hortolândia.
Riscos para a Saúde
O gastroenterologista Luiz Carlos Bertoncello, do Hospital Vera Cruz, alertou para os riscos que o consumo de alimentos contaminados pode representar à saúde. Bactérias comuns como Salmonella e E.Coli são frequentemente responsáveis pelas intoxicações alimentares, e a maioria das pessoas se recupera espontaneamente em até sete dias, sem a necessidade de antibióticos ou tratamentos específicos.
No entanto, o especialista destaca que certos grupos, como idosos, crianças, gestantes e pessoas com comorbidades, correm maior risco de complicações graves. Em alguns casos, a intoxicação pode evoluir para quadros mais sérios, como infecções intestinais, necessitando de internação e até cirurgia, como a remoção de partes do intestino em casos de perfuração.
Bertoncello também alertou para outras doenças graves, como cólera, cisticercose e botulismo, que podem ser transmitidas por carnes contaminadas, exigindo tratamentos complexos e podendo resultar em doenças crônicas.
Contaminação Invisível
Maristela Nascimento, professora de higiene e segurança dos alimentos da Unicamp, explicou que a detecção de bactérias nos alimentos contaminados não é simples. A presença dessas bactérias, que causam intoxicação alimentar, não altera o sabor ou o cheiro do alimento nas fases iniciais do processo de contaminação. “Só será possível detectar a presença dessas bactérias quando o alimento já estiver bem contaminado, e até lá, o consumo pode já ter causado a doença”, afirmou.
Maristela ainda alertou sobre um erro comum em muitas cozinhas: a lavagem da carne. De acordo com a especialista, a prática de lavar carnes como frango, porco ou boi é extremamente perigosa, pois pode espalhar micro-organismos pela cozinha e contaminar outros alimentos, utensílios e superfícies. “Nunca se deve lavar carne em casa, pois isso pode aumentar o risco de contaminação”, enfatizou.
Apreensão de Carne Imprópria
A apreensão de 37,5 toneladas de carne imprópria para o consumo ocorreu em um frigorífico no Jardim São Bento, em Hortolândia. A operação, realizada pela Polícia Civil com apoio da Vigilância Sanitária, foi resultado de um trabalho de investigação da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Americana. O frigorífico foi encontrado em condições higiênicas precárias, com carnes armazenadas de maneira imprópria, sem etiquetas de validade e visivelmente deterioradas.
O responsável pelo estabelecimento, um homem de 43 anos, foi preso em flagrante, mas liberado no dia seguinte. O advogado do frigorífico contestou a operação, alegando que as carnes apreendidas estavam em processo de carregamento e que não havia irregularidades.
A operação de fiscalização resultou na interdição do local, e a perícia foi acionada para verificar as condições das carnes e o cumprimento das normas de segurança alimentar.
Com o aumento dos casos de intoxicação alimentar e apreensões de alimentos estragados, as autoridades reforçam a importância de consumir produtos de procedência confiável e manter a higiene no manuseio de alimentos para evitar riscos à saúde.