A questão da participação de mulheres transgêneros em competições esportivas femininas tem gerado um intenso debate mundial, envolvendo questões de equidade, ciência e inclusão. Nos últimos anos, diversas federações esportivas, principalmente nos Estados Unidos, têm adotado regras mais rígidas, excluindo atletas trans de competições femininas. A discussão tornou-se ainda mais visível após o presidente Donald Trump assinar, em 2025, um decreto proibindo a participação de mulheres trans em esportes nacionais. Agora, com a recém-eleita presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Kirsty Coventry, surgem novas perspectivas sobre restrições mais severas para atletas trans nas Olimpíadas.
Diferenças Físicas Entre Homens e Mulheres
Estudos científicos há anos evidenciam que homens e mulheres, em média, têm desempenhos atléticos diferentes devido às variações biológicas impostas pela puberdade. A testosterona, por exemplo, desempenha um papel significativo no aumento de força muscular e resistência, o que resulta em vantagens para os homens. Quando uma pessoa trans passará por uma terapia hormonal, essas diferenças físicas podem ser reduzidas, mas não eliminadas completamente, o que leva a um cenário controverso.
Um estudo de 2024, publicado no British Journal of Sports Medicine (BJSM), mostrou que a força de preensão manual de mulheres trans (que passaram por pelo menos um ano de terapia hormonal) era maior do que a das mulheres cis, mas ainda inferior à dos homens cis. Embora isso seja uma vantagem para as mulheres trans, ela ainda está longe de garantir igualdade total em relação às mulheres cis.
O Impacto da Terapia Hormonal
As pesquisas indicam que, embora a terapia hormonal reduza as vantagens fisiológicas, como aumento de massa muscular e capacidade aeróbica, atletas trans ainda mantêm algumas vantagens após o tratamento. Um estudo de 2020, realizado com militares dos EUA, mostrou que, após um ano de terapia hormonal, as trans ainda apresentavam melhores desempenhos esportivos que as mulheres cis. No entanto, após dois anos de tratamento, o desempenho entre os dois grupos se igualou. Isso sugere que a duração do tratamento pode não ser suficiente para nivelar o campo de jogo entre atletas cis e trans.
Diferenças Antes da Puberdade
De acordo com o cientista esportivo Gregory Brown, as diferenças atléticas entre meninos e meninas começam a se manifestar antes da puberdade. Em crianças de até 10 anos, já se observa uma diferença no desempenho em provas de corrida e salto, com os meninos superando as meninas, mesmo em idades tão precoces. Esse dado levanta questões sobre a eficácia da terapia hormonal para nivelar as condições de competição, já que as vantagens biológicas associadas ao cromossomo Y podem ser difíceis de compensar completamente.
A Busca por Equidade nos Esportes
Apesar das diferentes opiniões, a maioria dos especialistas concorda que ainda falta uma maior quantidade de estudos sobre o impacto da transição em atletas de elite. Algumas, como a física médica Joanna Harper, acreditam que a terapia hormonal pode ser suficiente para permitir que atletas trans participem de competições femininas de forma justa. No entanto, ela também reconhece que o esporte é, por natureza, desigual e que as categorias, como peso no boxe, são uma forma de balancear as diferenças biológicas.
Ainda assim, o debate sobre a inclusão e equidade nos esportes segue sem consenso. A questão vai além da simples busca por regras claras, pois também envolve respeito pela dignidade e pelos direitos das pessoas trans, que enfrentam discriminação, preconceito e violência. O COI afirma que toda pessoa tem o direito de praticar esportes sem discriminação, mas também alerta que a credibilidade do esporte competitivo depende da igualdade de condições.
Este cenário evidencia a complexidade do tema, e a falta de uma solução definitiva reflete as dificuldades em equilibrar as questões de inclusão, desempenho e justiça no esporte de alto nível.