A inflação dos alimentos e bebidas segue elevada no Brasil, com um aumento de 7% no acumulado dos 12 meses até fevereiro, segundo o IBGE. Especialistas apontam diversas razões para esse cenário, desde as mudanças climáticas até dificuldades fiscais do governo. Itens essenciais da mesa do brasileiro, como café, ovos e carne, têm sido os maiores vilões desse aumento, com o café subindo cerca de 66% no último ano e os cortes de carne bovina com uma inflação de 22%.
Os analistas concordam que a valorização do dólar, que subiu cerca de 24% em relação ao real de 2023, também teve um impacto significativo sobre os preços. O economista Samuel Pessoa, da consultoria Julius Baer, explica que o preço dos alimentos está diretamente relacionado ao preço internacional, que é determinado em dólar. Produtos importados, como óleo de soja e azeite de oliva, também sofreram aumento devido à variação cambial. Para tentar controlar essa alta, o governo federal implementou cortes de impostos sobre produtos como açúcar, milho e carnes.
O economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destaca que o cenário atual é resultado de uma série de fatores que se combinaram para gerar uma “tempestade perfeita”. Além da valorização do dólar, ele menciona os impactos da pandemia de 2020, a crise hídrica de 2021 e a guerra na Ucrânia, que afetaram as cadeias globais de produção e distribuíram mais pressão sobre os preços. Em 2023, o Brasil também enfrentou os efeitos do El Niño, um fenômeno climático que impactou a produção de alimentos em várias regiões do país, especialmente em áreas de agricultura como o café, cujos preços subiram devido à estiagem.
As mudanças climáticas, com a intensificação dos fenômenos de El Niño e La Niña, têm um papel decisivo nesse quadro. O calor excessivo e a escassez de chuvas em algumas regiões, como o Sudeste e o Norte do Brasil, reduziram a produção de alimentos como café, tangerina e abacate, resultando em aumentos de preços. A bióloga Denise Bittencourt, que gerencia uma plantação de café em São Paulo, afirmou que algumas áreas de cultivo terão uma colheita de apenas 10% do esperado devido à seca. Ao mesmo tempo, o excesso de chuvas nas regiões produtoras de tangerina no Sul e Sudeste também prejudicou a frutificação, gerando perdas. Esses efeitos climáticos adversos, aliados à sazonalidade das colheitas, geram desperdício e aumento nos preços dos alimentos.