A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (2) a operação White Coffee, que desmantelou uma quadrilha responsável pelo tráfico internacional de cocaína. O grupo, sofisticado e organizado, utilizava um “dicionário próprio” para se comunicar e despistar os investigadores. Termos como “fena”, “escama” e “mamadeiras” eram usados para se referir a substâncias e itens utilizados na produção e envio da droga. A operação resultou em cinco prisões preventivas, com outros três membros ainda foragidos.
De acordo com a PF, o vocabulário descoberto em anotações e conversas entre os investigados indicava uma rede estruturada, onde, por exemplo, “fena” se referia ao fentanil, e “escama” e “peixe” eram usados para falar da cocaína. Além disso, “café” era o termo para a droga em si, enquanto “mamadeiras” se referia à cocaína embalada para transporte. O grupo usava garrafas térmicas para enviar a droga para países da Europa e Dubai, além de abrir registros de Microempreendedores Individuais (MEI) para lavar o dinheiro do tráfico.
Os investigadores detalham que a operação começou após a prisão de um líder da quadrilha em setembro de 2024, após a Polícia Militar encontrar um laboratório clandestino em Campinas, São Paulo. Durante a prisão, foram apreendidas anotações que revelaram o uso do vocabulário cifrado, e isso permitiu à PF expandir as investigações, culminando na operação White Coffee. O grupo manipulava a cocaína recebida da Colômbia e Bolívia, diluía a substância com cafeína e fentanil e preparava as remessas para exportação.
O esquema de tráfico envolvia ao menos 11 pessoas, e a droga era embalada de formas disfarçadas, como em garrafas térmicas e até roupas de crianças, para enganar os fiscais aduaneiros. Durante três meses de investigação, a PF rastreou 16 envios para países como Portugal, Alemanha, Dinamarca e Dubai. A operação também revelou o uso de pix e MEIs para lavar o dinheiro do tráfico.
O esquema não se limitava ao envio para o exterior. Parte da produção de cocaína menos pura era comercializada internamente, com o laboratório trabalhando também com outros insumos como maconha. A PF descobriu que a cocaína diluída com fentanil e cafeína visava a criação de um produto de “menor valor”, mas que passava a impressão de ter maior potência.
Os crimes investigados incluem tráfico internacional de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro, com penas que podem chegar a 40 anos de prisão. Além das prisões, a PF também decretou o bloqueio de bens e valores encontrados durante a operação.
Lista de termos usados pela quadrilha:
- Azeite: droga específica
- Barricas de café: pacotes de droga
- Café: cocaína
- Escama: cocaína
- Exportação: cocaína com alto grau de pureza
- Fena: fentanil
- Lid: lidocaína
- Lojinha/Biqueira: estabelecimento de drogas
- Maleta: dinheiro
- Mamadeiras: cocaína embalada para transporte
- Mistura: insumos para aumentar o volume da cocaína
- Peixe: cocaína
- Peruana: cocaína com baixo grau de pureza
- Tet: tetracaína
- Tirar do estacionamento: retirada do depósito para entrega