Em 2024, o Brasil registrou 927 ocorrências de “bird strike” — colisões entre aeronaves e pássaros — um aumento de 24,3% em relação ao ano anterior, quando foram registrados 746 casos. Até o dia 1º de abril deste ano, 55 episódios desse tipo já foram registrados no país, segundo o Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), sem vítimas. No último sábado (5), dois aviões da Latam sofreram colisões com aves no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
Para reduzir os riscos de colisões, os aeroportos têm adotado diferentes estratégias, incluindo a falcoaria, técnica que utiliza falcões treinados para afastar ou capturar aves nas proximidades das pistas de pouso e decolagem. Em Porto Alegre, essa técnica está sendo utilizada desde 2024 pela concessionária Fraport Brasil, responsável pelo aeroporto da cidade. A empresa terceirizada Radar Soluções Ambientais realiza o serviço, utilizando falcões para realizar voos de “afugentamento” ou captura das aves.
De acordo com a bióloga Denise Giani, da Radar, os falcões são treinados para capturar as aves com suas garras e, em seguida, aguardam a chegada do falcoeiro, responsável por resgatar a presa. Para evitar ferimentos nas aves capturadas, as garras dos falcões são protegidas com miçangas, dificultando a perfuração das aves. Entre as aves capturadas em Porto Alegre, o quero-quero é o mais frequente, mas também são registrados casos de captura de carcará, maçarico e saracura.
Após a captura e avaliação médica veterinária, as aves permanecem por no máximo dois dias no aeroporto, antes de serem soltas em uma área de soltura localizada a 120 quilômetros de distância. O objetivo, segundo José Carlos Saraiva, gerente de Segurança Operacional da Fraport Brasil, é tornar o aeroporto um ambiente “não-agradável” para a fauna local, prevenindo assim futuras colisões.
O treinamento dos falcões para esse trabalho é realizado desde filhotes e dura cerca de três meses. O processo envolve o condicionamento das aves ao toque humano e à interação com o falcoeiro, utilizando sinais, como apitos, para que as aves associem os comandos à recompensa, que é a carne oferecida após a execução do comando.