Uma pesquisa do FGV Ibre, divulgada nesta semana, revelou que o desemprego entre os jovens brasileiros de 18 a 29 anos é mais que o dobro da taxa registrada entre as pessoas de 30 a 59 anos. O levantamento foi feito com base em dados da Pnad Contínua, do IBGE, e, apesar da queda do desemprego no Brasil em 2024, os jovens continuam enfrentando sérias dificuldades para conseguir uma ocupação.
De acordo com os dados, enquanto a taxa de desemprego entre os jovens é significativamente mais alta, os principais desafios para os jovens são a falta de experiência profissional, a baixa qualificação e a precarização do trabalho. A pesquisa aponta que, frequentemente, as oportunidades que surgem para os jovens são informais, por não atenderem aos critérios exigidos pelas vagas formais. Essa informalidade acaba sendo uma armadilha, dificultando a qualificação e a transição para empregos mais estáveis.
Em termos de ocupação, 38,5% dos jovens de 18 a 29 anos que estavam empregados no final de 2024 estavam trabalhando de forma informal, enquanto o percentual para adultos de 30 a 59 anos era de 35,9%. Além disso, muitos jovens enfrentam a subocupação, ou seja, ocupações nas quais trabalham menos horas do que gostariam, o que impacta diretamente seus rendimentos.
No último trimestre de 2024, o salário médio dos trabalhadores brasileiros foi de R$ 3.315. Para os jovens, esse valor caiu para R$ 2.297, refletindo a concentração de jovens em ocupações de baixa qualificação e salários mais baixos. As 20 ocupações mais comuns entre os jovens, como balconistas, vendedores de lojas e trabalhadores de construção, têm uma taxa de informalidade de 44,6%, o que é superior à média nacional.
Além dos desafios relacionados à qualificação técnica, a pesquisa também destaca a importância das habilidades socioemocionais (ou “soft skills”) para o ingresso e permanência dos jovens no mercado de trabalho. A resiliência, a capacidade de trabalhar em equipe e a proatividade são algumas das competências valorizadas pelos empregadores, mas muitos jovens ainda têm dificuldades em desenvolvê-las.
Outro dado importante é o alto índice de demissões voluntárias entre os jovens, com muitos deles saindo dos empregos por valores não alinhados às suas expectativas ou por conta de escala de trabalho rígida. Muitos jovens têm a opção de procurar outro emprego, já que, em sua maioria, moram com os pais e não são os responsáveis financeiros pela casa.
O estudo também alerta para as consequências dessa baixa inserção dos jovens no mercado de trabalho, que pode afetar a competitividade e o desenvolvimento econômico do Brasil. Além disso, há um impacto na arrecadação de impostos e nas contribuições previdenciárias, já que a redução da formalização diminui o número de trabalhadores contribuindo para o sistema.
Para melhorar esse cenário, os especialistas defendem que, além da qualificação técnica, os jovens precisam desenvolver melhor suas habilidades socioemocionais. É necessário que iniciativas de capacitação profissional e cursos gratuitos estejam mais alinhadas com as demandas do mercado de trabalho.
A pesquisa também conclui que, para os jovens, é essencial se qualificarem para vagas formais e de melhor remuneração. O governo deve atuar no link entre empregador e candidato, ajudando a oferecer qualificação para que os jovens consigam se inserir em empregos formais e mais bem remunerados.