O contrabando de canetas injetáveis para emagrecimento tem se tornado cada vez mais comum nos aeroportos internacionais do Brasil. Os criminosos têm recorrido a métodos criativos — e muitas vezes arriscados — para esconder o produto, como disfarçá-lo de canetinhas infantis, colocá-lo dentro de potes de cosméticos e até prendê-lo ao corpo, incluindo dentro da roupa íntima.
Segundo Marcelo Costa, auditor fiscal da Receita Federal, a situação se agravou nos últimos meses: “No começo, eles estavam trazendo como bagagem de mão ou despachada normalmente. Agora, estão escondendo de todas as formas possíveis, inclusive presas ao corpo”.
As canetas mais apreendidas são da marca Mounjaro, que contém tirzepatida — substância usada no tratamento da obesidade e no controle da glicemia em pacientes com diabetes tipo 2. Na Europa, o medicamento custa cerca de R$ 1.200 por unidade. Já no mercado ilegal brasileiro, pode ser vendido por até R$ 5 mil.
A venda do Mounjaro em farmácias no Brasil está prevista para começar apenas no dia 7 de junho, segundo a fabricante. Por enquanto, a importação é permitida apenas para uso pessoal, com receita médica, conforme explica a delegada da Alfândega do Aeroporto do Galeão, Patrícia Miranda.
Mas os números mostram o tamanho do problema: em todo o ano passado foram apreendidas 292 unidades dessas canetas. Somente nos dois primeiros meses de 2025, já são 470 apreensões. A Receita Federal intensificou a atuação e agora realiza um trabalho de inteligência para mapear os voos de origem e o perfil dos passageiros envolvidos no transporte ilegal.
O uso dessas canetas tem aumentado por sua eficácia na perda de peso e no controle da glicose, como explica a médica Karen de Marca, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. No entanto, especialistas alertam: o uso sem prescrição pode causar sérios efeitos adversos, além de não ter a eficácia garantida quando o produto é transportado de forma incorreta, como grudado ao corpo, o que pode alterar sua temperatura e comprometer o efeito.
Daniel Pereira, diretor de medicamentos da Anvisa, reforça: “É um medicamento de tarja vermelha, precisa de receita médica e acompanhamento. Usar sem orientação é um risco à saúde”.
Enquanto o remédio não chega oficialmente às farmácias, o combate ao contrabando segue como prioridade nos aeroportos brasileiros.