Campinas (SP) perdeu, ao longo de 2024, o equivalente a 122,2 mil dias de trabalho devido a afastamentos por transtornos mentais ou comportamentais. Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, vinculado ao Ministério Público do Trabalho (MPT), e mostram um aumento de 6% em relação a 2023, quando foram contabilizados 115,3 mil dias.
O levantamento reúne informações da Previdência Social sobre trabalhadores formais e serve como base para a formulação de políticas públicas de prevenção a acidentes e doenças relacionadas ao ambiente de trabalho.
Além dos dias de trabalho perdidos, o relatório também aponta o impacto sobre a qualidade de vida dos trabalhadores, ao considerar os períodos em que os profissionais viveram com sintomas de doenças mentais, contabilizando a perda de “dias de vida saudável”.
Bancos e hospitais lideram número de afastamentos
Entre as atividades econômicas com maior incidência de afastamentos por transtornos mentais, os bancos múltiplos com carteira comercial aparecem no topo, com 17,6% dos casos. Em seguida, estão as atividades de atendimento hospitalar, com 8,82%.
O cenário de pressão e esgotamento tem afetado diretamente a saúde de muitos trabalhadores. Uma funcionária de uma empresa da região, que preferiu não se identificar, relatou como foi diagnosticada com depressão, ansiedade, síndrome do pânico e burnout após um episódio traumático no ambiente profissional.
“Eu não consegui pegar o carro. Sentei e comecei a tremer. Fui ao psiquiatra, já estou no terceiro. Faço terapia toda semana, tomo remédio para dormir, para ansiedade… agora estou começando a sair de casa para fazer atividade física”, contou.
Tendência global
Segundo a procuradora Luana Duarte, do Ministério Público do Trabalho da 15ª Região (MPT-15), o aumento dos casos na região acompanha uma tendência global.
“O cenário local converge com a análise mundial. Muitas vezes o empregador nega a relação entre o trabalho e o problema de saúde mental, mas o INSS reconhece, com base em dados epidemiológicos, que esses agravos são frequentes em determinadas atividades econômicas”, explicou.