Nesta segunda-feira, 28 de abril, Dia Mundial da Educação, a ONG Todos Pela Educação e o Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) lançaram o estudo “Aprendizagem na educação básica: situação brasileira no pós-pandemia”. O levantamento traz uma análise detalhada das desigualdades educacionais, com ênfase nas questões étnico-raciais, e revela um panorama preocupante em relação ao aprendizado de matemática no Brasil.
O estudo foi baseado em dados atualizados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e revela que, em 2023, apenas 16% dos alunos do 9º ano conseguiram alcançar um aprendizado adequado em matemática, uma leve queda em relação aos 18% registrados em 2019. No 3º ano do ensino médio, a situação se manteve grave, com apenas 5% dos estudantes atingindo o nível de aprendizado adequado, o mesmo índice observado em 2021.
Outro dado alarmante é a persistência das desigualdades raciais. Entre os alunos brancos, 8% conseguiram um aprendizado adequado em matemática, enquanto entre os alunos negros, o percentual foi de apenas 3%. A análise do QEdu, plataforma que acompanha o desempenho dos estudantes, também revela que 59% dos alunos do último ano da educação básica estão no nível “insuficiente” em matemática, o nível mais baixo de proficiência. Em língua portuguesa, 33% dos estudantes estão na mesma situação.
Além das disparidades raciais, o estudo também destaca a diferença no desempenho dos estudantes conforme o nível socioeconômico (NSE). Nos anos iniciais do ensino fundamental, a desigualdade se faz evidente: no 5º ano, 52% dos alunos de alto NSE têm aprendizado adequado em matemática, contra 32% dos alunos de baixo NSE. Em língua portuguesa, a diferença também é grande, com 61% dos alunos de alto NSE atingindo o nível adequado, contra 45% dos alunos de baixo NSE.
De acordo com Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Iede, os dados desde a década de 1990, quando o Brasil começou a monitorar a aprendizagem por meio de avaliações externas como o Saeb e o PISA, apontam consistentemente para um desempenho pior em matemática em comparação com língua portuguesa. Para ele, o cenário de 2023 reafirma a necessidade urgente de priorizar a matemática na agenda educacional do país.
Faria também destacou que, apesar de avanços no aprendizado de língua portuguesa em 11 estados entre 2019 e 2023, apenas quatro estados — Ceará, Goiás, Alagoas e Maranhão — mostraram alguma melhoria em matemática, embora de forma tímida, com variações abaixo de 0,5 ponto percentual.
O estudo reforça a necessidade de políticas educacionais mais robustas em todos os níveis de governo para enfrentar os desafios do aprendizado de matemática no Brasil, com destaque para a importância de incluir esse tema de forma mais eficaz no novo Plano Nacional de Educação.