Quem nunca recebeu uma ligação indesejada? Pode ser uma oferta de telemarketing ou até um golpe disfarçado. Essas ligações automáticas, chamadas de robocalls ou “metralhadoras”, são feitas por sistemas computadorizados que fazem chamadas em massa, durando no máximo seis segundos, antes de cair.
No Brasil, a Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel, classifica essas chamadas como “ligações de curta duração”, e um dado alarmante é que, por mês, cerca de 20 bilhões de ligações são feitas, sendo 10 bilhões por robôs. Esse tipo de prática tem sido uma dor de cabeça para milhões de brasileiros.
O Fantástico, da TV Globo, realizou uma investigação sobre essas empresas que fornecem programas para fazer as ligações automáticas. A reportagem criou um negócio fictício e entrou em contato com diferentes fornecedores. O que se descobriu foi que as chamadas rápidas funcionam como uma “prova de vida”, para saber se o dono da linha está ativo e, assim, é considerado um possível cliente.
A investigação revelou que essas empresas oferecem listas de dados pessoais de indivíduos, como nomes, endereços, e, o mais grave, números de telefone, sem a autorização dos donos. Um dos psicólogos da lista, Matheus Arend, disse nunca ter autorizado o uso de seus dados e se sentiu invadido.
Mas não é só isso. O aumento das robocalls no Brasil é um problema crescente. Em janeiro e fevereiro deste ano, a Anatel registrou quase 24 bilhões de ligações automáticas, um aumento de 12% em comparação com 2024. Muitas pessoas, como a empresária Rosaura Brito, já se cadastraram no “Não Me Perturbe”, mas continuam recebendo entre 30 a 40 chamadas por dia, desde cedo.
E as robocalls não servem apenas para telemarketing. Quadrilhas criminosas também se aproveitam dessa tecnologia para aplicar golpes. Ao utilizarem gravações automáticas, essas chamadas se tornam mais realistas e difíceis de distinguir de uma ligação legítima. O advogado José Milagre alerta que essas chamadas podem envolver perguntas como “Sim” ou “Não”, que podem ser gravadas e usadas em golpes futuros.
Além disso, uma prática ilegal que chama a atenção é a alteração do DDD de origem das chamadas. Por exemplo, uma ligação de São Paulo pode aparecer como se fosse do Rio Grande do Sul, confundindo ainda mais o receptor. E o mais grave: isso pode ser considerado uma fraude eletrônica, com pena de até 8 anos de prisão.
A Anatel, por sua vez, já implementou algumas medidas para combater as ligações abusivas, como a “origem verificada”, que faz com que, ao atender, o consumidor veja o nome e a logo da empresa que está ligando, garantindo maior segurança.
Mas, enquanto isso, o uso de robocalls continua a crescer, deixando milhares de pessoas com receio de atender o telefone, até mesmo quando é uma ligação importante, como aquelas de órgãos de saúde ou recrutadores.
Com o avanço dessa tecnologia, a solução pode exigir mais do que apenas medidas regulatórias. O combate a essas práticas passa por uma combinação de fiscalização rígida e, claro, conscientização da população.