Uma nova meta-análise revelou que o consumo elevado de alimentos ultraprocessados está diretamente relacionado ao aumento do risco de morte prematura. O estudo, que envolveu mais de 240 mil pessoas, indica que para cada 10% a mais de calorias provenientes desses produtos na dieta, o risco de falecer precocemente aumenta em quase 3%.
A pesquisa foi conduzida por uma equipe liderada por Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Monteiro, que também criou o sistema de classificação de alimentos NOVA, explicou que os alimentos ultraprocessados são fabricados com ingredientes baratos e muitas vezes quimicamente manipulados, além de aditivos sintéticos para melhorar sabor e durabilidade. “Não existe razão para acreditar que os humanos possam se adaptar completamente a esses produtos”, afirmou.
Este estudo não é o primeiro a associar o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados a problemas de saúde. De acordo com a pesquisa, o maior consumo de ultraprocessados pode aumentar o risco de doenças como ansiedade (53%), obesidade (55%), distúrbios do sono (41%), diabetes tipo 2 (40%) e até depressão. O estudo de fevereiro de 2024, por exemplo, já indicava que esses alimentos estavam ligados ao aumento de 50% nas mortes por doenças cardiovasculares e transtornos mentais comuns.
Pesquisas adicionais também apontaram que o consumo de alimentos ultraprocessados pode contribuir para o declínio cognitivo e o desenvolvimento de cânceres no trato digestivo superior. No entanto, os especialistas alertam para o fato de que o estudo não conseguiu determinar se as mortes foram diretamente causadas pelo consumo desses alimentos.
Os países com maior consumo de alimentos ultraprocessados, como os Estados Unidos, possuem uma dieta composta por quase 55% desses produtos, com estimativas que sugerem que a redução desse consumo poderia evitar milhares de mortes prematuras. No Brasil, onde o consumo é mais baixo, o estudo estimou que a eliminação dos ultraprocessados poderia evitar cerca de 25 mil mortes por ano.
Porém, especialistas alertam que, embora a associação seja clara, o consumo de alimentos ultraprocessados não deve ser visto como o único fator de risco, já que outros fatores como aptidão física e estilo de vida também desempenham papel crucial na saúde.