Muitas pessoas carregam feridas emocionais desde a infância sem perceber o impacto que isso tem em sua vida adulta. Comportamentos como medo de rejeição, dificuldade em impor limites ou necessidade constante de agradar os outros podem ser reflexos diretos da forma como fomos tratados na infância — especialmente por pais emocionalmente ausentes ou agressivos.
É aí que entra a reparentalidade, técnica terapêutica que propõe um “reaprender emocional” e oferece o cuidado e acolhimento que a criança interior não recebeu. Segundo a conselheira profissional Nicole Johnson, autora do livro “Reparenting Your Inner Child”, que será lançado em julho, a proposta é clara: “curar traumas não resolvidos da infância por meio da autocompaixão.”
“Você não precisa ter passado por negligência física ou abuso grave para precisar de reparentalidade. Às vezes, apenas a ausência de apoio emocional já é o suficiente para deixar marcas profundas”, explica Johnson. A técnica ajuda o indivíduo a identificar comportamentos e pensamentos enraizados em experiências dolorosas da infância e substituí-los por atitudes mais saudáveis e compassivas.
A psicóloga clínica Avigail Lev complementa: “Muitas vezes, tratamos a nós mesmos da mesma forma que fomos tratados na infância. A reparentalidade quebra esse ciclo.” Em vez de seguir padrões autossabotadores, a pessoa passa a agir com mais empatia e segurança.
Os sinais de que a reparentalidade pode ser necessária incluem:
- Sentir culpa ao dizer “não”;
- Medo constante de críticas ou abandono;
- Diálogo interno autodepreciativo;
- Dificuldade em se abrir emocionalmente.
A boa notícia é que você pode começar agora. Gestos simples como reconhecer suas emoções, falar consigo mesmo com gentileza ou até revisitar memórias da infância com compaixão já fazem parte do processo. “É como ser o pai ou mãe que você precisava e não teve naquele momento difícil da vida”, diz Johnson.
Para quem deseja aprofundar, contar com o acompanhamento de um terapeuta pode tornar o processo ainda mais eficaz e transformador. Afinal, como resume Johnson: “Quando curamos a nossa criança interior, não apenas mudamos nossa vida, mas também a forma como criamos as próximas gerações.”