Um estudo inédito da Universidade de São Paulo (USP) revelou que uma simples bolacha recheada pode “custar” até 40 minutos de vida saudável, enquanto uma banana pode somar mais de 8 minutos. Publicada na revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health, a pesquisa é a primeira no Brasil a utilizar o HENI (Índice Nutricional de Saúde), métrica desenvolvida por pesquisadores dos Estados Unidos.
A ferramenta estima, com base em dados epidemiológicos, quantos minutos de vida saudável são ganhos ou perdidos a cada porção média de alimento, levando em consideração fatores como o consumo de sódio, gordura trans, carnes processadas e, por outro lado, fibras, frutas, legumes e ômega-3.
Alerta para a dieta dos brasileiros
A análise se baseou nos 33 alimentos que mais contribuem para a ingestão energética da população brasileira, segundo dados da Pesquisa Nacional de Alimentação 2017–2018. O resultado geral do país foi negativo: -5,89 minutos por alimento, o que indica um padrão alimentar que tende a reduzir a expectativa de vida saudável.
Apesar dos números chamativos, os pesquisadores destacam que o objetivo não é demonizar alimentos específicos, mas sim incentivar substituições conscientes no dia a dia. “O problema não é comer uma bolacha recheada hoje, mas sim quando ela se torna um hábito frequente que substitui alimentos mais saudáveis”, explica a nutricionista Marhya Júlia Leite, da USP.
Ranking: o que mais perde e o que mais ganha
Entre os alimentos que mais retiram minutos de vida saudável por porção, estão:
- Bolacha recheada: -39,69 minutos
- Carne suína: -36,09 minutos
- Margarina: -24,76 minutos
- Carne bovina: -21,86 minutos
- Empanado de frango: -17,88 minutos
- Refrigerante com açúcar: -12,75 minutos
Já os que mais adicionam tempo de vida saudável são:
- Peixe de água doce: +17,22 minutos
- Banana: +8,08 minutos
- Feijão: +6,53 minutos
- Suco natural: +5,69 minutos
- Arroz integral: +4,71 minutos
Diferenças regionais e impacto ambiental
O estudo também apontou diferenças regionais nos padrões alimentares. Regiões como o Sul e o Centro-Oeste, chamadas no estudo de “Cinturão Agrícola” e “Pólo Econômico Central”, têm maior consumo de biscoitos recheados. Em algumas áreas, o consumo de alimentos regionais como açaí com granola, cuscuz e tapioca é mais comum, mas ainda insuficiente para garantir diversidade nutricional.
Além da saúde, os pesquisadores avaliaram o impacto ambiental dos alimentos. Carne bovina e pizza de mussarela lideram em emissão de gases de efeito estufa e consumo de água. Um prato com carne vermelha pode liberar mais de 21 kg de CO2eq, enquanto uma fatia de pizza consome cerca de 300 litros de água para ser produzida.
Como aplicar isso no dia a dia?
Segundo os autores, a ideia do HENI é ajudar o consumidor a fazer trocas simples: como substituir margarina por azeite, ou bolacha recheada por frutas frescas. A chave está no saldo geral da alimentação — um padrão alimentar equilibrado é mais importante do que escolhas pontuais.