Quando o pó compacto quebra, dá para juntar e grudar de novo com a ajuda de algum produto? Se o batom derreter no porta-luvas do carro, será que colocar na geladeira já resolve?
Pode ser tentador, mas tentar recuperar cosméticos com técnicas e receitas caseiras vai contra as indicações de especialistas, que dizem que a prática anula a validade do produto e ainda pode trazer riscos de alergias e irritações de pele.
Mesmo usar álcool – que é o favorito por causa da sua rápida evaporação – pode diluir e alterar a fórmula do cosmético, afetando a performance.
Pó compacto despedaçado?
É comum encontrar receitas indicando o uso de álcool, soro fisiológico e até água para recuperar a maquiagem em pó que caiu e se quebrou em pedaços, como sombras, blush e pó compacto.
Quem procura por esses métodos quer tentar salvar o produto e evitar jogar ele no lixo, mas o tiro geralmente acaba saindo pela culatra.
Quando um material que não foi planejado pelo fabricante é colocado na maquiagem, a vida útil não pode ser garantida. “Já perdeu a validade. Não dá para dizer se aquilo vai estar contaminado”, alerta Daniele Bornea, professora do curso de Estética e Cosmética do Instituto de Química da USP.
Veja quais são os problemas em se utilizar álcool e soro fisiológico para esse fim:
Álcool
Na teoria, o álcool vai evaporar rapidamente e sem prejudicar o cosmético. Na prática, no entanto, não dá para ter certeza de que não vai sobrar resíduo no produto.
“O álcool é uma porta aberta na pele: ele tira a gordura natural que temos e pode facilitar uma contaminação, uma infecção cutânea”, diz Elisete Crocco, coordenadora do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
“Se ficar qualquer partícula de álcool na maquiagem, vai causar uma irritação na pele, que pode evoluir para uma dermatite”, explica Crocco.
Misturar o pó quebrado com líquidos também pode resultar na diluição do cosmético, alterando a fórmula. “O álcool não é tão crítico nesse quesito, já que a tendência é evaporar, mas ainda pode causar separação e sedimentação”, afirma Daniele Bornea.
Soro fisiológico
Segundo as especialistas, usar soro é ainda pior que álcool. “O soro pode até alterar a fórmula cosmética”, afirma Bornea.
“O soro tem sal e açúcar. O sal, por ser um eletrólito, pode interagir com as outras substâncias, decompondo e deteriorando”, explica a docente. “Em uma base de rosto, por exemplo, água e óleo estão em equilíbrio no sistema. Se eu coloco outra substância, pode causar a perda das características da fórmula”, completa ela.
Para Elisete Crocco, o problema do soro é a chance de contaminação. A dermatologista alerta contra o uso do produto que está aberto e guardado na geladeira há muito tempo.
Tem também a questão da técnica usada por quem vai manipular o cosmético. “Em casa, a pessoa não costuma fazer isso de luvas ou limpar muito bem as mãos. Isso é um grande risco de contaminação”, diz Crocco.
Batom derretido?
Parece lógico pensar que o batom que derreteu pode endurecer novamente sem nenhum problema. Afinal, não há o acréscimo de nenhuma substância além da fórmula, certo?
“Até dá para usar, mas tem um agravante. O batom é uma emulsão, tem muito óleo. Quando derrete, corre o risco de a pouca água que tem nele evaporar e ele ressecar, alterar a fórmula”, conta Daniele Bornea.
Ou seja, você pode tentar recuperar o produto, mas isso não quer dizer que ele vai voltar ao estado original. Pode acontecer uma separação das pastas que compõem o cosmético, deixando ele “suado” e sem molde.
Por isso, é importante armazenar seus batons em lugares frescos e evitar deixá-los em lugares com variações muito grandes de temperatura, como no carro.